Sinopse
Você tem alguma fantasia que julga inconfessável? Desde já você está
convidado a saborear algumas delícias e a compartilhar certos temores
decorrentes de uma relação entre três amantes.
O tema é justamente a relação entre dois homens e uma mulher, uma tríade
formada por Eu, Minha Companheira e Nosso Namorado. Nele, narra-se a história
de como um casal heterossexual, guiado por fantasias eróticas, parte em busca
de mais um homem. A princípio, o objetivo é o de acolhê-lo em sua cama, mas eis
que surge alguém que vai se entregar de corpo e alma, resultando em um
envolvimento ardente e intenso.
Delírios de uma fantasia extravasa o erotismo inerente às relações a três e
expõe conflitos, temores e traumas que perturbam Eu, na qualidade de narrador e
protagonista. Ciúmes, medo, vergonha, culpa, frustração, angústia, preconceito,
pudor e moralismo religioso emergem numa narrativa em que também há espaço para
digressões relacionando violência, sexualidade e hipocrisia.
Delírios põe seu foco na bissexualidade (traço de personalidade bastante
intimidado) e dá um close na relação homossexual masculina. Esta “elegia”
também exalta supostas virtudes do “casal de três”, evidenciando uma forma não
usual de organização familiar.
Trata-se de uma ficção permeada por um ensaio (entendido como exame, análise e
apreciação) elaborado em primeira pessoa, com reflexões induzidas pelas
vivências do narrador-protagonista. Mais que um romance, é uma composição em
prosa que aborda o “caso de amor” de que é tecida a trama.
A narrativa propõe uma “musicalidade textual”, graças ao diálogo promovido
entre música e texto. Na tentativa de se conferir sonoridade à leitura, aos
capítulos associam-se andamentos musicais e estrofes de canções, que indicam
sutilmente a atmosfera ou o ânimo sugeridos durante a leitura. Para completar,
o livro norteia-se por recortes de várias obras, em especial da Divina Comédia,
que dá o tom às seções em que os diversos capítulos foram agrupados.
A utopia nesta obra é descobrir uma pretensa cumplicidade entre você e “Eu”.
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A vida insiste em indicar que as relações humanas são bem mais complexas, e um casal de dois - desde tempos imemoriais - não é necessariamente a única opção. O que impede a gente de viver esse amor múltiplo, difuso, ambivalente? De onde surge o entusiasmo e a disposição para reunir três pessoas numa única relação amorosa, afetiva e sexual?
O meu tema... são as
nebulosas, as zonas cinzentas, indefinidas, os matizes e nuances, as diferentes
possibilidades para um único ser. Onde estão escondidos e como se comportam os
bissexuais? Quem somos esses seres andróginos, indefinidos, gulosos, complexos,
insatisfeitos, aterrorizados pela inconstância? O interesse de uma única pessoa
pelos dois sexos é raridade? Ou esse interesse é ameaçador e, por essa razão,
mais desprezado e sufocado? (pág. 87)