1 de setembro de 2014

Resenha por Gabu Acosta



Quebre a casca e embale-se nos
 “Delírios a propósito de uma fantasia erótica”

Por que não apimentar o cotidiano com a imaginação? Por que viver atado aos valores dos outros? O que eles representam e qual sua função? Onde eu me encontro nisso? Melhor: o que a minha sexualidade tem a ver com isso?

Os delírios têm começo e fim na fantasia. O mundo real é o veículo. A vida, esta pode ser nosso palco, espetáculo e êxtase, ou, se negada em seus valores primitivos, nossa monumental broxada: uma grande castração operada pelo medo e pelo pudor.

Marco Antônio, em sua “Elegia”, convida ao experimento, enquanto investiga com suavidade, durante o romance, os impulsos que instigam a ousar, e as reações diante das pulsões que inquietam.
Benjamim, o protagonista, apresenta-se nu, em pura forma. Amante apaixonado, guiado pelo desejo, Benjamim transborda hedonismo, envolvendo-se em enlaces que começam como delírios, mas, uma vez estabelecidos, transcendem a fantasia, revelando-se possíveis, naturais, ou mesmo coerentes.

Da espontânea busca pelo prazer amadurece um encontro promissor, o qual floresce num sonho: o vínculo perfeito de uma tríade plurissexual. Amizade e sexo estão conectados na procura, o que demonstra, acima da paixão ou preferência, o permanente amor aos outros. O zelo, o carinho, a preocupação, e a quase obsessão pelo amor a três, vão guiar o leitor a uma jornada curiosa, por vezes dramática. E é justamente nesse amor ao ser humano que perdemos a identidade sexual, quando assumimos a missão de fazer-nos felizes.

Mas, ser feliz compete a cada um e ao seu modo; portanto, o convite é para os corajosos. Por que não compartilhar sua parceira? O que diria sobre experimentar o mesmo sexo ou compor uma tríade? Para quem topar quebrar a casca e prosseguir a leitura, acompanhará um romance permeado por análises, dados e parâmetros, que demonstram o que talvez você já soubesse, mas nunca se perguntou.

Com inferências artísticas, notações, críticas, investigações e dicas, a obra enriquece a imaginação, e provoca com muita safadeza, no melhor dos sentidos, os seus delírios. O ritmo, guiado pelas gozadas e desejos implícitos e explícitos do personagem - com a complexidade de cada relação assumida, tentada e retratada - poderão tirar o fôlego em alguns momentos, mas fatalmente provocarão seu objetivo: a comparação com os mesmos sentimentos na vida íntima de cada leitor.

Como agiríamos, como reagiríamos? Como agiremos? Somos livres, entenda-se, somos o que quisermos. Somos o que construirmos. Obteremos conforme oferecermos. Somemos!

Benjamim é um homem contente, amigo leal, cheio de amor para dar. Não vê medo ou erro em dividir, extravasar, inverter papéis; colhe todos os frutos da proposta. Pode mesmo ser uma garotinha apaixonada, quando investe afoitamente em seus amores, confessando sofrimentos e erros. Benjamim é um homem - como não? - por sua atitude, sem com isso se preocupar, pois se empenha a todo instante em fazer o que tem de ser feito para ser feliz. Revendo sua história, com seus traumas, influências e motivações, aceita a sexualidade como compreende o seu lugar no mundo. Avalia seus desejos como exprime suas maiores aspirações. Sem medo, dor ou vergonha.

Dentro ou fora dos delírios a mensagem ecoa: somos livres e capazes de melhor nos amarmos, de nos aproveitarmos mais à vontade, sem barreiras interpostas por tradições ultrapassadas, sem egoísmo ou temor à opinião alheia.

Fustigada pela sensualidade, convencida pela lógica e clareada pela sinceridade de cada trecho, permanece a deleitosa sensação – quanto menos inconsciente melhor - de que podemos ser mais íntegros e dinâmicos, se assim nos permitirmos. Basta manter o que nunca nos foi tirado, embora uma dura casca tenha sido colocada ao seu redor: a capacidade de observar a voz ativa da consciência - e, se quiser ir mais longe, o embalo das asas da imaginação.
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