2 de setembro de 2013

Um olhar peculiar sobre "Dom Casmurro"


Enquanto escrevia meus Delírios a propósito de uma fantasia erótica reli por acaso (existe isso?) o Dom Casmurro de Machado de Assis. Mais eu relia e trelia, mais me perguntava se por detrás daquele livro não se esconde o desejo, a fantasia, a pulsão - uma grande possibilidade - para a construção de um amor a três.

Fascinado pelo tema dediquei-me a imaginar como tudo poderia ter acontecido se Bentinho, Capitu e Escobar, os três adolescentes da história, não se limitassem à dualidade e se entregassem à multiplicidade. Nessa hipótese, ao invés de ciúmes, traição, culpa, mentira, hipocrisia, exclusão... o livro teria de abordar o amor mesclado com a amizade, a camaradagem, cumplicidade, lealdade, inclusão, e claro, um erotismo redobrado.

Se for correta a hipótese de que os ciúmes doentios de Bentinho eram dirigidos tanto a Capitu quanto a Escobar, então essa suposição pode jogar alguma luz sobre um intrigante enigma literário brasileiro do século XIX. A vida reuniu os três adolescentes, mas estes não deram chance para a transgressão, usufruindo e concretizando uma grande paixão a três, embora houvesse devoção, encanto, amizade e amor de sobra entre eles; faltou-lhes coragem e atrevimento, pois percorriam um campo minado pelo preconceito.

O texto que está na seção “Dom Casmurro” do blog foi originalmente escrito como um capítulo do livro, mas este acabou ficando grande e diversificado demais. Decidi, portanto, não cansar ou afugentar meus possíveis leitores, com delírios além da conta. Agora no blog deparei-me com um espaço adequado para expor a minha fantasia machadiana, sem importunar os leitores do livro.

Só uma pequena explicação adicional: todos os capítulos do meu livro estão relacionados a um ou mais versos de uma música, e também a um andamento musical. Como esse texto - Uma tríade possível? - foi concebido para o livro, ele surgiu com os versos de Cajuína, de Caetano Veloso, e com o andamento Andante sostenuto . Eu os mantive aqui no blog, por coerência ao livro. Para detalhes sobre a relação que pretendi criar entre o texto e os andamentos musicais, eu os remeto a uma breve nota que está nas páginas iniciais do livro.

Será um grande prazer se eu tiver a oportunidade de conhecer a opinião sincera de vocês sobre a minha leitura dessa obra prima da nossa literatura.

4 comentários:

  1. Marco achei interessante essa "intromissão" na obra de Machado. Ana

    ResponderExcluir
  2. Marco Antônio, estou ansiosa por essa que certamente será uma brilhante contribuição literária... Parabéns pela ousadia e acima de tudo, por essa conquista!!!

    ResponderExcluir
  3. Caro Marco Antonio:
    Me reservo los comentários para cuando pueda leer tu libro. Conociéndote, sé que abordarás el tema, tan personal y delicado, con elegancia y profundidad.
    Por lo pronto, la presentacion de tu blog es excelente. Felicitaciones!
    Marc

    ResponderExcluir
  4. Caríssimo Marco Antônio! Motivada pelo seu olhar peculiar sobre a obra Dom Casmurro, reli o livro e concordo com você sobre a grande possibilidade desse amor a três. Porém, também, me atrai a possibilidade da participação de Sancha. Seria perfeito se os quatro tivessem vivido esse amor em toda sua plenitude. Grande abraço, Itamara (amiga de Lucas e Novaes)

    ResponderExcluir