Enquanto escrevia meus Delírios a propósito de uma fantasia erótica reli por acaso (existe
isso?) o Dom Casmurro de Machado de
Assis. Mais eu relia e trelia, mais me perguntava se por detrás daquele livro
não se esconde o desejo, a fantasia, a pulsão - uma grande possibilidade - para
a construção de um amor a três.
Fascinado pelo tema dediquei-me a imaginar como tudo
poderia ter acontecido se Bentinho, Capitu e Escobar, os três adolescentes da
história, não se limitassem à dualidade e se entregassem à multiplicidade.
Nessa hipótese, ao invés de ciúmes, traição, culpa, mentira, hipocrisia,
exclusão... o livro teria de abordar o amor mesclado com a amizade, a camaradagem,
cumplicidade, lealdade, inclusão, e claro, um erotismo redobrado.
Se for correta a hipótese de que os ciúmes doentios
de Bentinho eram dirigidos tanto a Capitu quanto a Escobar, então essa
suposição pode jogar alguma luz sobre um intrigante enigma literário brasileiro
do século XIX. A vida reuniu os três adolescentes, mas estes não deram chance
para a transgressão, usufruindo e concretizando uma grande paixão a três,
embora houvesse devoção, encanto, amizade e amor de sobra entre eles;
faltou-lhes coragem e atrevimento, pois percorriam um campo minado pelo preconceito.
O texto que está na seção “Dom Casmurro” do blog foi originalmente escrito como um
capítulo do livro, mas este acabou ficando grande e diversificado demais. Decidi,
portanto, não cansar ou afugentar meus possíveis leitores, com delírios além da
conta. Agora no blog deparei-me com
um espaço adequado para expor a minha fantasia machadiana, sem importunar os
leitores do livro.
Só uma pequena explicação adicional: todos os
capítulos do meu livro estão relacionados a um ou mais versos de uma música, e
também a um andamento musical. Como esse texto - Uma tríade possível? - foi concebido para o livro, ele surgiu com
os versos de Cajuína, de Caetano
Veloso, e com o andamento Andante
sostenuto . Eu os mantive aqui no blog,
por coerência ao livro. Para detalhes sobre a relação que pretendi criar entre
o texto e os andamentos musicais, eu os remeto a uma breve nota que está nas
páginas iniciais do livro.
Será um grande prazer se eu tiver a oportunidade de
conhecer a opinião sincera de vocês sobre a minha leitura dessa obra prima da
nossa literatura.
Marco achei interessante essa "intromissão" na obra de Machado. Ana
ResponderExcluirMarco Antônio, estou ansiosa por essa que certamente será uma brilhante contribuição literária... Parabéns pela ousadia e acima de tudo, por essa conquista!!!
ResponderExcluirCaro Marco Antonio:
ResponderExcluirMe reservo los comentários para cuando pueda leer tu libro. Conociéndote, sé que abordarás el tema, tan personal y delicado, con elegancia y profundidad.
Por lo pronto, la presentacion de tu blog es excelente. Felicitaciones!
Marc
Caríssimo Marco Antônio! Motivada pelo seu olhar peculiar sobre a obra Dom Casmurro, reli o livro e concordo com você sobre a grande possibilidade desse amor a três. Porém, também, me atrai a possibilidade da participação de Sancha. Seria perfeito se os quatro tivessem vivido esse amor em toda sua plenitude. Grande abraço, Itamara (amiga de Lucas e Novaes)
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